terça-feira, 3 de maio de 2011

Mãe fala sobre as cartas de Chico Xavier

Célia Diniz descreve as sensações e como encarou a morte e o recebimento de cartas de seus filhos através do médium

Ângela Moraes - Especial para o JC

Aos 10 anos, Rangel voltou ao plano espiritual por um acidente de bicicleta. Aos 27, sua irmã Mariana também, em virtude de dengue hemorrágica. Na Terra, ficou Célia Diniz, vice-diretora hoje do Centro Espírita Luiz Gonzaga [Pedro Leopoldo, MG] e uma das mães que buscaram o alívio nas cartas de Chico, assim como no filme “As mães de Chico Xavier”, na personagem vivida por Vanessa Gerbelli. Em entrevista especial ao Jornal Momento Espírita e Jornal da Cidade, Célia relata o feliz reencontro de seu coração com as palavras irrefutáveis de seu filho, pelas cartas de Chico, bem como a bendita consolação vinda através do conhecimento da realidade espiritual:

JC - Quantas cartas você recebeu de seus filhos?
Célia Diniz -Recebi duas cartas-mensagens do Rangel, através de Chico, a Mariana se foi em 2006.

JC - Antes de recebê-las, você já era espírita?
Célia - Eu já era espírita. Meu pai trabalhava na Fazenda Modelo junto com o Chico e fazia parte da diretoria do Centro Espírita Luiz Gonzaga, fundado pelo Chico em 1927, portanto fui criada numa família espírita.

JC - Quando recebeu a primeira, de quem era? Chegou a duvidar que fosse mesmo de seu (sua) filho(a)? Teve certeza da autoria de que maneira?
Célia - Eu conhecia a excelência da capacidade mediúnica do Chico e não duvidaria de nada. Mesmo assim as mensagens eram permeadas de tantas evidências, que não deixavam margem para incertezas. Traziam apelidos, nome de familiares, de amigos, da ajudante do lar, de parentes desencarnados dos quais nem nos lembrávamos ou sabíamos que existiam; situações do cotidiano familiar, tais como sentimentos mais íntimos, diálogos. Traziam ainda detalhes dos momentos finais do filhinho. Desnecessário dizer que o médium desconhecia tudo isto.

JC - As cartas trouxeram que tipo de sentimento, compreensão, a você? Ajudaram a superar momentos tão difíceis?
Célia - Indescritível as emoções do recebimento das cartas. Para mim, não havia o impacto da descoberta, muito comum nas mães não espíritas. Impacto este vindo da descoberta, naquele momento, que a morte não existe, que a vida continua e o amor nunca morre. Mesmo sabendo, de antes, de tudo isto, receber notícias, era como ter meu filho de volta*. Sensação de esperança e de paz, de confiança em Deus e otimismo, muito me ajudaram na superação de tão doloroso luto.

JC - Você tem notícia de onde seus filhos estão, no plano espiritual, e em que tipo de atividade estão envolvidos?
Célia -Tenho sim. O Rangel, sei que o período de 1983 até esta data foi muito bem aproveitado no seu crescimento espiritual e que hoje já é um rapaz, e ajudou na chegada e adaptação da Mariana. Sua rotina lá é de estudo e trabalho. Quanto à Mariana, ainda em fase de adaptação, estuda e já consegue trabalhar um pouco. Mensagens recebidas por Geraldinho Lemos e Wagner Gomes da Paixão, às quais também pude hipotecar toda credibilidade, fruto das evidências que elas continham e que igualmente, eram desconhecidas por eles, muito têm me ajudado a conviver com a saudade e com a dor da separação física.

JC - Você tem algum tipo de mediunidade?
Célia - De alguma forma, somos todos um pouco médiuns, conforme as constatações de Allan Kardec. Particularmente, sinto a ajuda do Plano Espiritual, em nossas tarefas na seara espírita em geral e principalmente durante as palestras.

JC - Como foi sua trajetória até se tornar diretora hoje do CE Luiz Gonzaga?
Célia - Bem, a minha mãe era a zeladora do Centro e, pequenininha ainda, me lembro de estar junto dela “atrapalhando” na limpeza. Mais tarde um pouco, participava das aulas de Evangelização Infantil que ela ministrava. Depois algum tempo, na Mocidade. Nesta época eu cuidava de uma pequena livraria interna do Centro e me encontrava sempre com o Chico, que participava ainda, umas duas vezes por ano, das reuniões, quando em visita a Pedro Leopoldo. Nos anos 70 veio a faculdade, as aulas de química, o casamento e três filhos em menos de três anos, enfim, pouco tempo para a doutrina. Em 1983, ao ver partir o Rangel, reduzi as aulas do turno da noite e premida por intensa necessidade, voltei para as atividades espíritas, incluindo mais dedicação aos estudos, que, na verdade nunca cessaram.  Com a aposentadoria em 1993, comecei a cuidar da Livraria, das campanhas para a reforma e restauração do prédio, etc. Quando a dengue levou a Mariana, em 2006, e com o casamento de Aguinaldinho, meu filho mais velho, intensificamos o trabalho. Idealizamos um memorial de nossa instituição. Ao resgatar a história do Luiz Gonzaga, resgatamos junto os primórdios das atividades mediúnicas do querido e inesquecível fundador. Hoje estamos vice-presidente da casa que me acolheu durante toda esta minha reencarnação e rendo graças a Deus, pela oportunidade do trabalho.

JC - O que tem a dizer às mães que hoje buscam notícias de seus queridos que voltaram antes delas?
Célia -Digo que as portas do mundo espiritual não se fecharam com a partida do querido medianeiro. Mas, que à falta de tão cristalino instrumento, há de se ter bastante critério na busca e na aceitação de notícias. O médium deve exercer o seu mister em total clima de desprendimento material e sem vaidades. Avaliar criteriosamente se as informações contidas nas cartas eram desconhecidas do médium e etc. Perguntar ao próprio coração se reconhece ali o familiar comunicante. Também, não podemos esquecer que “o telefone toca de lá para cá” e que sempre é possível nos consolar através da vastíssima literatura deixada por Chico Xavier sobre a realidade do além-túmulo.Ao conhecermos esta realidade, saberemos que nossos entes queridos estão amparados, mais do que nunca, pela misericórdia divina e que contam com a nossa força e equilíbrio para que se sintam fortes e equilibrados.

JC - Você chegou a acompanhar o trabalho de Chico em socorro a tantas mães? Como foi essa convivência?
Célia -Tive a oportunidade de estar em Uberaba muitas vezes e vi de perto estas atividades. Eram horas incríveis de muita aprendizagem. Nos deliciávamos naqueles ágapes de amor e luz e víamos que com mensagens ou sem elas, as mães recebiam do sublime seguidor de Jesus todo conforto e ajuda que buscavam. Quando nada mais podia ser feito ou dito, o Chico as abraçava e chorava junto. Impossível aquilatar as vibrações que emanavam dele em direção a corações despedaçados em mil partes. Parece-me que nesses encontros ele oferecia uma espécie de “colinha”, pois todas saíam de lá pacificadas, harmonizadas e esperançosas. Não era o médium, era Chico Xavier agindo, era o amor em ação.

JC - Há algo que Chico haja dito para você na ocasião, que lhe marcou para sempre?
Célia -Hoje, quando a saudade de sua presença física dói tanto, tudo que consigo lembrar do que ele me dizia me marcará para sempre. Mas vou deixar uma frase, que pode ser dita a qualquer pessoa que esteja vivenciando uma separação dolorosa: Olhe o sofrimento ao seu redor, ajude a outras pessoas que sofrem, talvez até mais, que um dia você poderá dizer: “Graças a Deus reencontrei meu filho!”.

* Destaque nosso.

FONTES
Texto: JCNet, Bauru (SP), 02/05/2011
Foto: ISTOÉ, 25/03/2011.